El sueño de la razón produce monstruos

ambivalência e os sábios acidentais

Hoje eu acordei e lembrei do começo do livro, "Progress: A Reconstruction" de Peter Wagner

“In 1799, a decade after the French Revolution and the death of the enlightened monarch Carlos III, Francisco de Goya etched El sueño de la razon produce monstruos, reproduced on the cover of this book, as a part of his series Los caprichos. The etching can be interpreted as a commitment to the Enlightenment belief in reason: when reason sleeps, monsters will take over. But it can also be read more ambivalently: it is the dream of reason to create monsters that will rule the world.”

Primeiro de tudo, muito legal a língua em que a mensagem foi escrita, sueño pode significar tanto sonho quanto o sono. E há um espaço para estas duas interpretações. Eu fui procurar um pouco mais e os rascunhos da obra indicavam uma mensagem mais iluminista, quando a razão adormece monstros aparecem. Entretanto a interpretação que o sonho, e o ideal da razão, produz um monstro pode hoje ser lido como uma profecia.

É muito divertido encontrar previsões de coisas que aconteriam hoje, podemos encontrar esse tipo de dupla interpretação graças a ambigüidade da língua. Mas essas interpretações só fazem sentido por causa da ambivalência de nossa relação com a razão e o progresso. A razão é ao mesmo tempo apresentada como ferramenta para nos libertar de superstições, mas também como uma jaula de ferro.

A idéia de que o progresso material trará o progresso social, também é manchada pelo sangue das vítimas do progresso. O progresso tecnológico permitiu se matar com uma velocidade nunca antes vista, e ao mesmo tempo aumentar consideravelmente a expectativa de vida. A simplificação e esquematização do mundo acaba limitando nossas formas de existir, ao ponto de nos reduzir à idiotas racionais1, os modelos fortalecem os poderes centrais a ponto desses produzirem modelos com nossas vidas.

Nos incentivando materialmente à nos comportarmos como atores racionais, nos impondo sanções e incentivos à esse comportamento, deformando a ética para uma ética de consumo. Muito comum eu encontrar na comunidade FLOSS uma defesa de que não podemos punir uma pessoa por se comportar como um ator racional quando queremos criticar um sistema injusto em que o comportamento racional está sendo julgado.

Por mais que isto pareça útil, afinal estamos expondo um sistema injusto, não sermos root em celulares por exemplo. Esse tipo de argumento reforça justamente essa forma de pensar do homem econômico, sem perceber estamos reforçando a mesma lógica que justificaria as práticas abusivas dos montadores de celular. Afinal a empresa está apenas agindo como um ator racional.

O nosso sonho de cyberespaço livre tenha acabado produzindo o mundo da razão e do progresso, e nesse mundo há monstros. Para combate-los teremos que confrontar a ambivalência de nossas posições e estratégias.

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Rational fools, é o termo original