Incondicional e Ilimitado

Quando eu era adolescente eu tinha um plano de telefone com ligações a duração ilimitada, eu pagava 50 centavos e podia falar o quanto eu quisesse, então eu aproveitava para ligar para minha amada. Mas essas ligações caiam depois de uma hora de duração, a empresa não poderia ter ligações realmente ilimitadas pois se não eu só ligaria para minha namorada uma vez e nunca mais ligaria. Não seria economicamente viável.

Conforme eu cresci eu aprendi que talvez não seria amor se a única pessoa para quem eu poderia telefonar fosse a minha namorada, e que também haveria um problema se a única pessoa que eu pudesse namorar fosse uma namorada. Esse é um texto sobre bissexualidade, mas sobretudo sobre as fronteiras do amor. Mesmo que a empresa que vendia meus planos de telefonia me prometia um mundo sem fronteiras.

Fronteiras

Um dia eu tive que morar bem longe de minha namorada, estavamos separados por uma fronteira, não sabemos exatamente em qual dos 10 mil quilometros que no separavam estava essa linha. Mas eu sei que ali estava uma separação. Aliás talvez ela estivesse além da fronteira do amável, uma pessoa que vive longe, que eu não posso ver, será que posso amar essa pessoa ? Eu me perguntava, será que é real tudo isso, eu questionava a possibilidade desse amor.

Os anos se passaram e outras pessoas apareceram, e dessa vez eu me perguntava, será que essa pessoa me amar, será que eu estou dentro do espaço dos amáveis ? E então chegou um dia que eu tive que me perguntar por que eu estava excluindo as pessoas do mesmo gênero que o meu dos meus espaços de amabilidade.

Regras

Haviam regras para reger o que é socialemente aceito, e essas regras ajudam a construir uma sociedade, quando me diziam que amor é amor e isso não importa, isso não respondia minhas questões. Obviamente que importa, questionar e ir contra a regras sociais modifica a sociedade, e é a essência do que eu chamava de coragem, e eu achava desonesto dizer que não.

A não ser que as pessoas queriam que essa transgressão seja o mais invisível possível e continuar aplicando todas as outras regras existentes. Seria apenas uma pequena expansão de quem é socialmente aceitável amarmos.

Aceitável

Então para que esse amor seja aceitável, deveríamos amar uma pessoa aceitável, com um bom emprego, uma boa família e bons amigos. O único erro seria a pessoa gostar de pessoas do mesmo gênero. E o mesmo seria verdade para nós, para sermos amados e aceitos socialmente nós devemos ter um bom emprego, uma boa família e bons amigos, e o nosso único erro seria gostar de pessoas do mesmo gênero que o nosso. E quem não amaria esse cidadão modelo ?

Merecimento

Nós teríamos feito tudo para sermos aceitos e amados. Nós merecemos ser amados. Infelizmente esse sistema não é suficiente, isso significa que certas pessoas são excluídas do amor, o amor não pode ser real se ele for condicional. O amor não pode ter fronteiras, pois não é de sua natureza, o amor não pode conviver com esse medo de não sermos aceitos. Nós não podemos viver o amor se estamos constantemente lidando com a ameaça de não sermos mais amáveis no dia seguinte.

Aceitação

Aceitar todos e todas em todos os sentidos é um prerequisito para o amor, meu questionamento das fronteiras do amor começaram no plano romântico, mas hoje elas vão para além dessa esfera. Eu pratico o amor de forma difusa com as pessoas ao meu redor, oferecendo minha amizade de forma incondicional.